Os museus da cidade

Quem vem a Lisboa, no geral, não pensa em museus. Vem pela beleza da cidade histórica, pela gastronomia, a animação da vida noturna; vem para se deixar ficar nalgum café ou esplanada e, sem a ansiedade de quem viaja para outras capitais europeias, deixa simplesmente as horas correrem sem pressa.

Mas dias assim chuvosos, comuns nesta época do ano, podem decepcionar o turista menos curioso. Conhecer os monumentos, chafarizes e miradouros exige caminhada. Como diz um amigo, “Lisboa se conhece aos rastros”: é preciso caminhar entre as sete colinas para conhecer a cidade; e andar, com frio, vento e chuva, não apetece. As igrejas – Sé, Igreja de São Domingos, a Basílica da Estrela e, claro, a Igreja Santa Maria de Belém, nos Jerônimos, estão entre as minhas preferidas – são atrações possíveis, num dia assim. Mas serão muitos os deslocamentos e a chuva pode ser um desmancha prazer.

Que fazer então o amigo ou a amiga que acaba de chegar na cidade debaixo d’água? Museus. Lisboa tem ótima oferta de museus para gostos variados, inclusive para crianças. No entanto, os visitantes se esquecem dos museus ou simplesmente os desconhecem. Gosto de arte. Então indico um pouco do que conheço. Certamente há sugestões outras resenhadas nos melhores guias da cidade. Se não gostar dessas minhas, pode encontrar num deles o que fazer.

Partindo do centro em direção a Belém, mas bem antes, fica o Museu Nacional de Arte Antiga, o mais visitado da cidade. Ainda assim, não muito conhecido pela maioria dos turistas. Há um pouco de tudo no museu: pintura, escultura, arte decorativa, antiguidade; enfim, um imenso acervo de peças que vão do século XII ao século XIX. É verdade que a organização das exposições não facilita a compreensão dos leigos, como eu, e desvaloriza o próprio acervo, mas há peças que por si só valem a visita. Para mim, a mais impressionante, para esquecer as horas observando as figuras e os detalhes, é o tríptico Tentações de Santo Antão, do holandês Jheronymus Bosch. Só essa obra vale a visita, mas há muitas mais. Além da exposição permanente, o Museu de Arte Antiga traz também mostras temporárias. Agora, desde Dezembro, e até o final de março, estão em exibição 118 obras do pintor espanhol Joaquín Sorolla. Ainda não fui ver. Por tudo que li, essa exposição, Terra Adentro, é para não perder.

O Museu Coleção Berardo, no Centro Cultural Belém, tem um acervo de arte moderna e contemporânea que vale a visita. Além da coleção permanente, há sempre exposições temporárias, algumas muito boas. Perto dali, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. São dois prédios. Um, a antiga central de eletricidade; o outro, o novo, tem projeto inovador e arquitetura ousada; só por isso já vale a visita. Tanto a proposta arquitetônica quanto as exposições de arte contemporânea que ali acontecem discutem os dilemas da vida moderna: os desafios que nos impõem as novas tecnologias, o urbanismo, clima, trabalho e a própria arte. Não são grandes os dois museus, e ambos podem ser visitados num mesmo dia.

A Fundação Calouste Gulbenkian é também um oásis de cultura e formação. Seu museu, com o acervo do fundador, organiza exposições várias, desde revisões e conversas entre as obras da coleção própria, até exposições temporárias trazidas para Lisboa pela fundação. E, se no meio da tarde o sol aparecer, o jardim que envolve o prédio principal é mais uma atração desta cidade cheia de pequenos mistérios.

Não para por aí. Vale conhecer o Museu Nacional do Azulejo, o pequeno e importante Museu da Igreja de São Roque, o Museu dos Coches, o Palácio Nacional da Ajuda, o Museu das Marionetas e sei lá eu quantos outros que ainda não conheço. Também são incontáveis as galerias. Em Marvila, duas que acho muito interessantes: Galeria Underdogs e a Filomena Soares. Nas Janelas Verdes, quase em frente ao Museu Nacional de Arte Antiga, a Wozen se destaca.

Viu? Se você está em Lisboa por esses dias chuvosos e não quer ficar no hotel nem perder o dia em shoppings, não fique triste, há muito o que fazer na cidade sem se molhar tanto.

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